Ben Goertzel: criador da SingularityNET conta sua visão para o futuro da inteligência artificial descentralizada | Portal do Bitcoin
À medida que o mundo se maravilhava com o avanço de plataformas de inteligência artificial como ChatGPT, a AGIX escalava o ranking das criptomoedas com os melhores desempenhos em 2023. O token nativo da...
À medida que o mundo se maravilhava com o avanço de plataformas de inteligência artificial como ChatGPT, a AGIX escalava o ranking das criptomoedas com os melhores desempenhos em 2023. O token nativo da empresa SingularityNET registra a terceira maior valorização vista no ano, com uma alta acumulada de 430%.
A SingularityNET, no entanto, surfou a onda de maneira natural, já que trabalha com inteligência artificial e sua conexão com a blockchain desde que foi criada em 2017.
Por trás da empresa está Ben Goertzel, um importante cientista conhecido no campo da robótica — criou, por exemplo, a inteligência artificial por trás do famoso robô humanoide Sophia — e por seus estudos sobre Inteligência Artificial Geral (AGI, na sigla em inglês).
A diferença para o conceito tradicional é que a AGI se debruça sobre uma inteligência artificial que pode superar a inteligência do ser humano, pensar por conta própria e trazer inovações e novas soluções para problemas que a humanidade ainda não solucionou.
Chegar até lá, embora exija muito esforço, não é impossível na visão de Goertzel.
“No final das contas, o cérebro humano é um monte de células nervosas enviando elétrons e sinais químicos. De certa forma, é como uma máquina, mas há toda a questão da filosofia da consciência e da experiência, que é real e interessante. Por outro lado, esse problema se aplica tanto à carne em nossas cabeças quanto ao silício em um computador”, comparou o cientista em entrevista exclusiva concedida ao Portal do Bitcoin em sua passagem pelo Brasil durante o Web Summit Rio.
Junto com Janet Adams, a chefe de operações da SingularityNET, Ben falou com profundidade sobre o seu trabalho atual no campo da AGI, como anda o desenvolvimento da blockchain HyperCycle, e explicou por que é fundamental que as próximas ondas de inteligência artificial aconteçam em ambientes descentralizados.
Confira abaixo a entrevista:
Portal do Bitcoin: Ben, antes de surgir as criptomoedas e de você uni-las ao seu trabalho, você já tinha uma carreira consolidada como pesquisador de inteligência artificial. Quando surgiu essa paixão por IA?
Ben Goertzel: Eu me interessei por IA desde quando era criança, no início dos anos 70. Isso começou quando eu vi robôs pela primeira vez na TV em programas de ficção científica e depois lendo livros do gênero. Na época, parecia óbvio para mim que as pessoas não eram as coisas mais inteligentes possíveis e que a maioria dos problemas poderiam ser resolvidos se fossemos mais inteligentes. Então eu pensei: “e se pudéssemos criar máquinas mais inteligentes do que nós, isso resolveria tudo, certo?”.
Acho que eu tinha uns 12 ou 13 anos quando descobri que existia uma literatura de pesquisa científica real e pessoas realmente trabalhando em IA, e então isso tudo começou a parecer bastante interessante. Mas o campo da IA não estava progredindo tão rapidamente naquela época como agora. A corrente principal da IA naquela época era algo chamado sistemas especialistas (expert systems), em que as pessoas tentavam digitar as regras exatas que a IA deveria seguir, o que parecia sem esperança para mim. Eu acabei fazendo um doutorado em matemática e me tornei um matemático.
Pouco depois, comecei a me inclinar novamente para tentar construir sistemas de IA. Tenho trabalhado nisso há bastante tempo. As coisas começaram a ficar mais claras para mim no final dos anos 90, quando a internet começou a se tornar algo grande e proeminente. Parecia claro que a IA poderia ser executada de forma descentralizada em uma série de máquinas espalhadas pela internet, sem um controlador central. Para isso, você precisaria combinar criptografia robusta com processamento distribuído e assim por diante. Tentei construir sistemas assim em 2000, 2001, como redes de IA descentralizadas. Era tão difícil porque as coisas eram tão lentas.
Então a tecnologia blockchain surgiu, os contratos inteligentes apareceram, e isso deu uma base que você poderia realmente usar para criar sistemas de IA descentralizados, que é o que temos feito na SingularityNET.
E no meio disso tudo, quando as criptomoedas e a tecnologia blockchain entraram no seu radar?
Muitos dos meus colegas de IA eram bastante céticos em relação à conexão com blockchain. Acho que é porque criptomoedas são associadas a esquemas de dump and dump e tentativas de ganhar dinheiro de todas as formas possíveis. Quando os faço analisar a ciência da computação por trás da blockchain, eles ficam muito mais interessados, porque é um algoritmo legal. E é bastante interessante como você resolve as coisas para coordenar processos de software em várias máquinas diferentes.
A descentralização é o que torna coisas como Bitcoin e Ethereum interessantes.Você está lidando com dinheiro, que normalmente é centralizado e controlado por uma combinação altamente regulamentada de agências governamentais e empresas, e você está dizendo: “não precisamos de tudo isso, podemos criar diferentes tipos de moedas”. Tudo isso com apenas um código de software que está sendo executado em máquinas de muitas pessoas. Não há motivo para que IA, medicina e muitas outras indústrias não possam ser regulamentadas da mesma maneira.
Agora, quando comecei a pensar nisso por volta do ano 2000, não me ocorreu começar com dinheiro digital. Eu estava pensando em como criar redes de IA seguras e descentralizadas ou redes de dados médicos, por exemplo. E quando o dinheiro cruzou minha mente, parecia que isso traria muitos problemas regulatórios. O que aconteceu, é claro, foi que as pessoas simplesmente lançaram uma moeda digital e disseram “que se dane os problemas regulatórios”.
Como você conectou na prática a tecnologia blockchain nos trabalhos da sua empresa de inteligência artificial?
O SingularityNET é uma plataforma que permite executar uma variedade de sistemas de IA na blockchain, mas as operações internas da IA não são feitas na blockchain. Por exemplo, se você tem uma rede neural, um neurônio enviando um impulso para outro neurônio ou algo do tipo, essas ações não ocorrem na blockchain.
Mas se você tem, digamos, uma rede neural completa que eu criei e uma outra rede que outra pessoa criou, elas podem enviar dados de entrada e saída uma para a outra através da blockchain. Elas podem ser pagas através da blockchain. Podem avaliar uma à outra na blockchain e dizer: “os dados que você me deu foram terríveis, avaliação de uma estrela”.
Portanto, a blockchain é usada para operações de nível mais alto. Ela estabelece canais de comunicação. Lida com pagamentos. Lida com segurança. Lida com avaliação.
E qual blockchain a SingularityNET usa?
Lançamos a SingularityNET no Ethereum. Agora, migramos parte do sistema para a Cardano. Ainda não concluímos a migração para a Cardano porque estamos aguardando um subsistema chamado Hydra, que faz parte da Cardano e ainda não foi totalmente concluído.
No entanto, começamos a criar nossa própria blockchain de primeira camada chamada HyperCycle, que terá um design único. Será uma blockchain sem livro-razão (ledger). Basicamente, cada participante da rede, cada nó, possui seu próprio histórico de transações e tem o histórico de seus vizinhos e talvez alguns dos vizinhos de seus vizinhos. Então é tudo ponto a ponto. É como se fosse um shard, mas é feito até a camada base.
O objetivo é permitir o uso da blockchain em um nível mais granular dentro das operações de IA. Quando, digamos, um neurônio envia carga para outro neurônio em uma determinada rede neural, por que isso não pode estar na cadeia? Às vezes você deseja que esteja. Às vezes não.
Mas digamos que você está fazendo a operação de um mecanismo lógico, como por exemplo, “essa pessoa fala inglês com sotaque neutro, então talvez seja americana”, e você gostaria que essa inferência lógica fosse armazenada na blockchain. Portanto, se você deseja usar a blockchain em um nível muito granular dentro das operações do seu sistema de IA, precisa de algoritmos de blockchain muito rápidos e baratos. O HyperCycle é projetado para isso.
Então a blockchain HyperCycle será focada em ser uma base para sistemas de inteligências artificiais?
Sim, isso é uma das coisas que poderemos fazer com o HyperCycle. Ele é muito flexível. Queremos ter a flexibilidade de criar uma variedade de mecanismos de consenso diferentes que se adequem ao que você está fazendo, seja enviar grandes quantias de dinheiro, seja criar uma rede social ou enviar informações dentro de uma rede de IA. Portanto, cada aplicação pode precisar de seu próprio mecanismo de consenso personalizado.
No HyperCycle, não incorporamos o mecanismo de consenso ao protocolo principal. Isso tem a ver com a ausência de uma ledger uma vez que se você tiver um registro que abrange toda a cadeia, você precisa ter um mecanismo de consenso universal.
Como está o processo de desenvolvimento da blockchain? Quando ela será lançada?
O desenvolvimento está indo muito bem. Vamos tentar lançá-la provavelmente no próximo ano. Tenho dois amigos, Toufi Saliba e Dann Toliver, que criaram uma blockchain chamada Toda, que também não tem um livro-razão. Mas eles não a haviam lançado como uma cadeia pública e também faltava uma linguagem de contrato inteligente. Estava faltando várias peças mas podemos usá-la como base.
Em nosso sistema de IA OpenCog, temos uma linguagem de programação personalizada para IA chamada MeTTa. Então estamos adaptando isso para ser a linguagem de contrato inteligente para o HyperCycle. Quero dizer, há muito trabalho a ser feito, mas temos peças existentes.
Então sua visão de conexão de cripto com inteligências artificiais, é mais no âmbito de fornecer uma base descentralizada?
Trata-se de controle. Atualmente, as IAs mais influentes estão em execução nos servidores da Microsoft e do Google e são controlados por essas empresas.
Se quisermos que a IA não seja controlada por uma única parte, ela precisa ser capaz de ser executada em uma ampla variedade de máquinas em diferentes países, pertencentes a pessoas diferentes em que nenhum desses participantes tem controle sobre ela. Esse é o problema que a blockchain resolve: ter uma rede distribuída de processos de software realizando uma atividade coordenada sem nenhum controle central.
Será possível que pessoas ao redor do mundo possam executar IAs em seus computadores, levando em conta que esses sistemas exigem grande volume de armazenamento de dados e de processamento?
Sim, assim como executam um nó de Bitcoin ou Ethereum. Você não precisa saber como funciona para executá-lo. Se você está hospedando um nó Ethereum, pode muito bem estar executando IA. No final das contas, você está executando software que fornece tokens para você.
Também estamos conversando com pessoas que operam fazendas de mineração de Bitcoin. Eles não estão ganhando tanto dinheiro agora, então, estamos aconselhando-os sobre como substituir suas GPUs por GPUs melhores que possam executar sistemas de IA. Assim eles também podem transformar suas fazendas de mineração de criptomoedas em fazendas de servidores de IA.
Esse modelo exige que as pessoas sejam recompensadas. A blockchain HyperCycle terá um token?
Sim, o Hypercycle terá um token assim como a SingularityNet possui o AGIX. Hoje, o AGIX é usado para comprar serviços na rede de IA, basicamente. Portanto, é um token de pagamento para serviços de IA fornecidos por agentes de IA.
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O AGIX teve um aumento significativo de preço este ano. É uma preocupação da empresa manter a cotação do ativo alta?
Certamente ajuda, mas não tem sido nosso foco principal. Essa é uma das dificuldades em conduzir um projeto nesse meio, já que o mercado oscila loucamente e sua comunidade fica brava ou feliz com você dependendo das flutuações do mercado como um todo.
Nós não manipulamos o preço de forma alguma, isso ocorreu devido ao entusiasmo orgânico do mercado por IA. Houve um boom recente em tokens de IA, mas, em geral, as altcoins estão fortemente correlacionadas com o Bitcoin. Então, na maioria das vezes, é apenas uma montanha-russa.
Mas nossa comunidade entende a grande visão que temos e querem que desenvolvamos uma IA geral benéfica e descentralizada. Construir essas coisas requer um foco constante a longo prazo. Portanto, você não pode prestar muita atenção se o preço subiu muito ou caiu muito. O trabalho que você tem que realizar é o mesmo.
O ChatGPT virou um fenômeno este ano. Você avalia que esse é o ano-chave para a adoção das inteligências artificiais?
Se você olhar para as últimas décadas no mundo da tecnologia, tivemos os PCs surgindo no início dos anos 80, a internet e a web surgindo no final dos anos 90, e cada um deles foi revolucionário por si só. Tivemos os dispositivos móveis surgindo um pouco mais tarde. Essas coisas têm um alcance enorme. E uma vez que começaram, não pararam. Eles continuaram crescendo até permear tudo. E, é claro, outra coisa que se pode observar é que cada uma dessas revoluções foi mais rápida do que as anteriores.
Então acredito que o ChatGPT e tecnologias similares são empolgantes agora. Em breve, eles serão considerados apenas como utilidades e todos estarão acostumados com isso, assim como estamos acostumados a ter eletricidade em nossas casas e a ter celulares.
Levará apenas alguns anos até a próxima grande onda de IA surgir e surpreender a todos novamente. Nosso objetivo principal é fazer com que a próxima grande onda de IA surja do ecossistema descentralizado em vez das grandes empresas de tecnologia. Portanto, se você conseguir desenvolver algo duas vezes mais inteligente que o ChatGPT, algo que faça mais sentido e possa fundamentar suas afirmações na realidade, e lançar isso em uma plataforma descentralizada, será o ideal.
É isso que vocês estão fazendo agora?
Estamos tentando, sim. Esse é o nosso plano. No final das contas, as pessoas vão usar porque é legal, não porque é descentralizado. Foi assim com o sistema operacional Linux ou a Wikipedia, a maioria das pessoas os usam simplesmente porque fazem o que precisa ser feito. Esses são modelos descentralizados maravilhosamente abertos e são usados porque são melhores que os concorrentes.
É necessário fazer isso para IA. É preciso criar algo que seja melhor do que o que as grandes empresas de tecnologia estão fazendo. Acredito que somos ajudados pelo fato de que todas as grandes empresas de tecnologia estão se copiando, fazendo a mesma coisa.
Se estou certo, podemos fazer melhor ao adotar uma abordagem algorítmica ligeiramente diferente, como conectar esse modelo de rede neural profunda a um sistema de raciocínio lógico, conectá-lo a um tipo diferente de IA que simula a evolução, que é mais criativa e inteligente.
Quais são os problemas que você vê atualmente no ChatGPT?
Em alguns aspectos ele é burro e em outros ele é brilhante. O sistema não é bom em cadeias longas de raciocínio. Portanto, não pode fazer ciência, já que um artigo científico de qualidade geralmente acaba sendo uma sequência razoavelmente longa de pensamento original que nunca foi feito antes. Engenharia também é assim. O ChatGPT não faz isso porque cada coisa que ele faz contém uma certa quantidade de besteira, e a besteira se multiplica quando várias cadeias são combinadas.
Ele pode escrever um poema em qualquer estilo, mas todos são entediantes. Ele não é inovador artisticamente, embora seja impressionante pra caramba que ele possa escrever um poema em qualquer estilo. Então é um sistema incrível, e acredito que pode ter um impacto enorme na substituição de muitos empregos que os seres humanos podem fazer.
Por outro lado, ele não pode fazer arte ou ciência inovadora. A maioria das pessoas também não faz arte ou ciência inovadora no seu dia a dia, mas, essencialmente, qualquer ser humano poderia fazê-lo se dedicasse muito tempo a isso. O problema é que a sociedade não o incentiva a fazer, a menos que você tenha um talento extraordinário acima da média.
Acredito que podemos tornar sistemas do tipo do ChatGPT muito mais factuais apenas integrando-os com um grafo de conhecimento de uma maneira direta. Mas as limitações nas quais me concentrei, raciocínio complexo de várias cadeias e ser mais fundamentalmente inovador ao criar algo, não podem ser resolvidas sem passar para uma arquitetura fundamentalmente diferente.
E isso está relacionado com a ideia que você tem sobre inteligência artificial geral, certo? Você pode explicar o que é isso?
AGI É uma IA que pode dar um salto além de sua programação e um salto além de seus dados. Nós, humanos, sempre seremos guiados por nossa programação, que no nosso caso é a estrutura do nosso cérebro, e pelos dados que temos, mas também podemos ir além deles. Um sistema como o ChatGPT tem muitos dados de treinamento, então ele pode fazer muitas coisas, mas não generaliza muito além dos seus dados de treinamento. Ele sempre permanece próximo aos dados que lhe foram fornecidos, então existe um limite.
Nossa ideia é criar uma IA que não seja apenas funcional, mas criativa e que compreenda quem é e o que é, e que compreenda sua relação conosco e com o mundo. Se o sistema tiver autoconhecimento e compreensão dos outros, então ele tem o que precisa para se aprimorar de forma intencional.
Também possui a base necessária para desenvolver compaixão e empatia, porque um sistema que não sabe o que é ou que não compreende que você é um ser com sentimentos e experiências, não pode ser um ser empático e compassivo. Ele está apenas manipulando símbolos e tokens que não têm conexão com o mundo em sua mente.
No que o SimilarityNet está trabalhando atualmente? Quais são os principais projetos?
Janet Adams: Nossa missão principal, como Ben mencionou, é o desenvolvimento da inteligência artificial geral, mas estamos construindo uma pilha de tecnologia em torno disso. Um exemplo é uma linguagem específica para inteligência artificial que permite que as AIs se comuniquem entre si, chamada Metta. Temos o HyperCycle, que será a blockchain para interações de IA para IA. Essa é nossa missão central.
Mas além disso, estamos implementando o uso dessas tecnologias em diversos mercados verticais estrategicamente selecionados. Estamos em DeFi com o SingularityDAO. Temos o Cogito, que é um projeto de tracercoin. É como uma stablecoin, mas em vez de ser vinculada a moeda fiduciária, é vinculada a uma cesta de índices que se movem muito devagar ao longo do tempo. A primeira moeda que estamos desenvolvendo é uma moeda baseada em um índice verde.
Temos nossa mais recente empreitada, chamada Zarqa, que está usando a pilha de tecnologia que desenvolvemos para AGI que Ben vem trabalhando há décadas e que agora atingiu um nível realmente crucial de maturidade.
Enfim, todos os nossos projetos têm como objetivo beneficiar a humanidade e derrubar as barreiras de entrada para indivíduos e pequenas empresas. O que o ChatGPT mostrou ao mundo, e isso é um grande presente, é que você não precisa ser um cientista de IA para poder usar a IA.
Ben, qual é a sua visão para o futuro da inteligência artificial e tudo que está construindo? Qual é o seu objetivo final?
Eu diria que o objetivo que tenho como desenvolvedor de IA há muito tempo é construir uma máquina pensante que descubra como se aprimorar e dar os próximos passos.
Juergen Schmidhuber, outro cara que trabalha com IA há muito tempo, sempre disse que seu objetivo era construir um cientista ótimo e depois se aposentar. Eu não acho que vou conseguir criar um cientista ótimo, e também não quero me aposentar. Parece entediante. Mas acho que uma vez que você tenha criado uma máquina que possa se reprogramar e redesenhar a si mesma, então você entra em uma próxima fase de desenvolvimento.
Essa máquina provavelmente se tornará muito mais inteligente do que qualquer coisa que pudéssemos conceber. Como se chega lá é uma pergunta. Outro questionamento é como aumentar as chances de que, uma vez que você tenha essa máquina que possa se redesenhar e reconstruir, ela queira fazer coisas que consideramos boas e agradáveis em vez de fazer outras coisas aleatórias.
Acredito que a descentralização seja boa e tenha o potencial de impedir que pequenos grupos de humanos façam a IA servir apenas aos seus próprios interesses, como “me faça mais dinheiro do que qualquer outra pessoa” ou “torne o meu país mais poderoso do que todos os outros”.
Queremos que a IA seja treinada em compaixão, empatia e valores humanos positivos. Acredito que apenas dizer o que fazer não funcione mais. Ajuda, mas não vai funcionar com um sistema de aprendizado, assim como não funciona com um sistema de aprendizado diante de uma criança pequena. O que você faz com crianças para orientá-las em uma direção mais benéfica, é interagir com elas fazendo coisas boas. Elas fazem coisas boas ao seu lado e entendem o sentimento e isso molda suas mentes.
É por isso que acredito que aplicações como medicina, educação e música, e aplicações que estão construindo conexões positivas com as pessoas, são extremamente importantes para IA.
Você acha que as IAs do futuro têm mais chances de serem boas do que más?
Eu acredito que sim. Não se pode ter certeza de que serão boas, e isso é verdade para todos os avanços tecnológicos ao longo da história humana. Depois que eles surgem, a maioria das pessoas acha que são boas, enquanto outras dizem: “Eu gostaria que não tivéssemos esses telefones tocando o tempo todo”.
Você poderia ir a uma tribo na Amazônia ou no Congo, na África. Algumas das pessoas lá não querem entrar na civilização moderna, certo? Elas preferem o modo de vida que estão levando e provavelmente há pontos positivos nisso. É divertido correr pela floresta com sua família e caçar e coletar em seu acampamento de verão o dia todo. Por outro lado, também não queremos voltar ao modo de vida anterior.
Sinto que sempre há perspectivas múltiplas em qualquer mudança. E algumas perspectivas verão mais vantagens, outras verão mais desvantagens. Em relação às pessoas que desejam pausar ou interromper o desenvolvimento da IA, não acho que isso seja bom. Acredito que a IA possa curar doenças, retardar o envelhecimento, acabar com as guerras e fazer muitas coisas úteis.
Eu também não acho que seja viável banir de qualquer maneira. IA é amplamente vista como útil para muitas pessoas nos negócios e na vida pessoal. A experiência das sociedades em proibir coisas que todos querem é muito ruim. É como a proibição do álcool ou das drogas. Você precisa de um estado completamente fascista para proibir algo que as pessoas realmente querem usar. Pode haver algum caso extremo em que você queira fazer isso, mas não parece que a IA seja essa caso extremo.
Janet Adams: Estamos fazendo o nosso melhor para garantir que a AGI, quando nascer, tenha valores que reflitam o grupo mais amplo da humanidade. A ideia que temos é que, ao envolver um grupo diversificado de pessoas com valores e ética contribuindo para o desenvolvimento da AGI, estamos aumentando as chances de que ela beneficie uma ampla variedade de pessoas e, idealmente, toda a humanidade no futuro.
Estamos incorporando ativamente o amor, a bondade, a compaixão e o cuidado em nossa cultura, em nosso trabalho, em todos os nossos algoritmos e em tudo o que fazemos. Possuímos um mecanismo de reputação altamente avançado, que ajuda a identificar quais IA têm resultados positivos, por isso é importante abordar essa questão de uma perspectiva ampla e holística, não apenas técnica.
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